terça-feira, 9 de março de 2010

Que lindo ...........

http://www.youtube.com/watch?v=c11IAprUW7o

Para refletir...

Poesia Matemática

Às folhas tantas do livro matemático um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base, uma figura ímpar; olhos rombóides, boca trapezóide, corpo otogonal, seios esferóides. Fez da sua uma vida paralela a dela até que se encontraram no infinito. "Quem és tu?"indagou ele com ânsia radical. "Sou a soma dos quadrados dos catetos. Mas pode me chamar de hipotenusa." E de falarem descobriram que eram - o que, em aritmética, corresponde a almas irmãs - primos-entre-si. E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas sinoidais. Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas e os exegetas do Universo finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E, enfim, resolveram se casar constituir um lar. Mais que um lar, uma perpendicular. Convidaram para padrinhos o poliedro e a bissetriz. E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro sonhando com uma felicidade integral e diferencial. E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia. Foi então que surgiu o máximo divisor comum frequentador de círculos concêntricos. viciosos. Ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta, e reduziu-a a um denominador comum. Ele, quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade. Era o triângulo, tanto chamado amoroso. Desse problema ela era a fração mais ordinária. Mas foi então que o Einstein descobriu a relatividade e tudo que era expúrio passou a ser moralidade como, aliás, em qualquer sociedade.

Millôr Fernandes